Dia da Consciência Negra
Escritora Conceição Evaristo
A propósito da data, os 8ºs anos homenagearam a escritora brasileira contemporânea Conceição Evaristo, cujo conto Olhos d'Água foi estudado em sala de aula.
Os alunos elaboraram desenhos ilustrando o conto e confeccionaram um mural comemorativo.
Leiam um fragmento do conto e observem alguns desenhos:
" Uma
noite, há anos, acordei bruscamente e uma estranha pergunta explodiu de minha
boca. De que cor eram os olhos de minha mãe? Atordoada custei reconhecer o
quarto da nova casa em que estava morando e não conseguia me lembrar de como
havia chegado lá. E a insistente pergunta martelando, martelando. De que cor
eram os olhos de minha mãe? Aquela indagação havia surgido há dias, há meses,
posso dizer. Entre um afazer e outro eu me pegava pensando de que cor seriam os
olhos de minha mãe. E o que a princípio havia sido um mero pensamento
interrogativo, naquela noite se transformou numa dolorosa pergunta carregada de
um tom acusatório. Então eu não sabia de
que cor eram os olhos de minha mãe? (...)
. Lembro-me de que muitas vezes, quando a mãe cozinhava, da
panela subia cheiro algum. Era como se cozinhasse ali, apenas o nosso desejo
desesperado de alimento. As labaredas, sob a água solitária que fervia na
panela cheia de fome, pareciam debochar do vazio de nosso estômago, ignorando
nossas bocas infantis em que as línguas brincavam a salivar gosto de comida. E
era justamente nos dias de parco ou nenhum alimento que ela mais brincava com
as filhas. Nessas ocasiões, a brincadeira preferida era aquela em que a mãe era a Senhora, a Rainha. Ela
se assentava em seu trono, um pequeno banquinho de madeira. Felizes, colhíamos
flores cultivadas em um pequeno pedaço de terra que circundava o nosso barraco.
As flores eram depois solenemente distribuídas por seu cabelo, braços e colo. E
diante dela fazíamos reverências à Senhora. Nós, princesas em volta dela,
cantávamos, dançávamos, sorríamos. A mãe só ria de uma maneira triste e com um
sorriso molhado... Mas de que cor eram os olhos de minha mãe? Eu sabia, desde
aquela época, que a mãe inventava esse e outros jogos para distrair a nossa
fome. E a nossa fome se distraía. (...)"
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