Dia da Consciência Negra


Escritora Conceição Evaristo

O Dia da Consciência Negra é comemorado sempre em 20 de novembro, data atribuída à morte de Zumbi dos Palmares, líder negro, escravo, em 1695.
A propósito da data, os 8ºs anos homenagearam a escritora brasileira contemporânea Conceição Evaristo, cujo conto Olhos d'Água foi estudado em sala de aula.
Os alunos elaboraram desenhos ilustrando o conto e confeccionaram um mural comemorativo.
Leiam um fragmento do conto e observem alguns desenhos:


                                                                               

               " Uma noite, há anos, acordei bruscamente e uma estranha pergunta explodiu de minha boca. De que cor eram os olhos de minha mãe? Atordoada custei reconhecer o quarto da nova casa em que estava morando e não conseguia me lembrar de como havia chegado lá. E a insistente pergunta martelando, martelando. De que cor eram os olhos de minha mãe? Aquela indagação havia surgido há dias, há meses, posso dizer. Entre um afazer e outro eu me pegava pensando de que cor seriam os olhos de minha mãe. E o que a princípio havia sido um mero pensamento interrogativo, naquela noite se transformou numa dolorosa pergunta carregada de um tom acusatório.  Então eu não sabia de que cor eram os olhos de minha mãe? (...)

. Lembro-me de que muitas vezes, quando a mãe cozinhava, da panela subia cheiro algum. Era como se cozinhasse ali, apenas o nosso desejo desesperado de alimento. As labaredas, sob a água solitária que fervia na panela cheia de fome, pareciam debochar do vazio de nosso estômago, ignorando nossas bocas infantis em que as línguas brincavam a salivar gosto de comida. E era justamente nos dias de parco ou nenhum alimento que ela mais brincava com as filhas. Nessas ocasiões, a brincadeira preferida era  aquela em que a mãe era a Senhora, a Rainha. Ela se assentava em seu trono, um pequeno banquinho de madeira. Felizes, colhíamos flores cultivadas em um pequeno pedaço de terra que circundava o nosso barraco. As flores eram depois solenemente distribuídas por seu cabelo, braços e colo. E diante dela fazíamos reverências à Senhora. Nós, princesas em volta dela, cantávamos, dançávamos, sorríamos. A mãe só ria de uma maneira triste e com um sorriso molhado... Mas de que cor eram os olhos de minha mãe? Eu sabia, desde aquela época, que a mãe inventava esse e outros jogos para distrair a nossa fome. E a nossa fome se distraía. (...)"


 




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