Literatura brasileira

A literatura pode ser estudada de uma forma histórica ou não.
Você pode estudar em ordem cronológica os movimentos estéticos ou pode estudar textos esparsos,  ligando-os pela temática, por exemplo.
No meu entender, é importante ter conhecimento dos diversos movimentos estéticos para obter uma ideia geral da literatura brasileira, embora o principal em literatura seja a leitura e estudo de textos.
O Brasil, como se sabe, foi descoberto em 1500. Isto é, em 1500, uma nau portuguesa chegou ao Brasil, conheceu os primitivos habitantes e passou a mandar primeiro degredados (pessoas condenadas deportadas) e depois colonos para cá. No século 16 (de 1501 a 1600), havia pouquíssimos habitantes no Brasil e a literatura produzida aqui reduziu-se a cartas de informação sobre a terra para Portugal, inclusive a primeira carta de Pero Vaz de Caminha, e a literatura de catequese dos índios pelos jesuítas, como Padre Anchieta.
No início do século XVII (1601), começa-se a produzir poesia no Brasil, usando um modelo de um movimento estético existente na Europa, o Barroco. O Barroco, criado a partir da influência da Contra-reforma católica, tem em si a oposição entre o teocentrismo medieval e o antropocentrismo do Renascimento. A literatura usa muitas figuras de linguagem e as antíteses ( por exemplo, "céu e terra","pecado e perdão") ilustram essa ambivalência ou presença de características opostas na mesma estética barroca.
No final do século XVIII (depois de 1750), os poetas passam a produzir no Brasil a partir de um novo modelo - o Arcadismo. Procura-se reviver as características do Renascentismo, como a mitologia grega.
Os poetas passam a apresentar a característica do bucolismo, que é o amor à natureza e fingem-se de pastores que vivem no campo cuidando de ovelhas e amam outras pastoras, embora na realidade vivam na cidade e exerçam profissões como a de advogado. É a época da Inconfidência Mineira no Brasil e aparecem aí as "Cartas Chilenas", de Tomaz Antonio Gonzaga, uma exceção dentro do Arcadismo, pois a temática é uma crítica velada ao governo colonial português no Brasil. Um autor fictício critica os desmandos de um certo fanfarrão Minésio, num país também fictício. Mostro depois um texto dessas cartas. É bem interessante.
No século XIX, chegamos ao Romantismo, o próximo movimento estético no Brasil. Os românticos "importaram" da Europa características como subjetivismo (expressão dos sentimentos do "eu" poético - a pessoa que se expressa nas obras literárias), sentimentalismo, fuga do presente e fuga do espaço em que o poeta vive, pessimismo, até elogio da morte em alguns momentos. Mas ao mesmo tempo os românticos brasileiros apresentaram características de uma temática brasileira, como o indianismo (presença de um índio idealizado nas obras do período, como as de José de Alencar) e o condoreirismo, poesia que exalta causas políticas, como a do abolicionismo no Brasil, já no último período da Romantismo brasileiro, com Castro Alves.
Vejamos um texto que mostra o indianismo romântico, um fragmento do poema Leito de folhas verdes, de Gonçalves Dias, poema que lembra as cantigas medievais de amigo, com uma mulher apaixonada chamando o amado distante. Mas lembrem que este poema foi escrito durante o Romantismo, no século XIX, embora apresentando também esta característica, além das características românticas.

Leiam o texto, extraído de  Leito de folhas verdes

Por que tardas, Jatir, que tanto a custo
à Voz do meu amor moves teus passos?
Da noite a viração, movendo as folhas,
Já nos cimos do bosque rumoreja.

Eu sob a copa da mangueira altiva
Nosso leito gentil cobri zelosa
Com mimoso tapiz de folhas brandas,
Onde o frouxo luar brinca entre flores.

Do tamarindo a flor abriu-se, há pouco,
Já solta o bogari mais doce aroma!
Como prece de amor, como estas preces,
No silêncio da noite o bosque exala.

(...)

Não me escutas, Jatir! nem tardo acodes

À voz do meu amor, que em vão te chama!
Tupã! lá rompe o sol! do leito inútil
A brisa da manhã sacuda as folhas!

Em resumo, a pobre indígena brasileira apaixonada prepara um leito de folhas embaixo de uma mangueira e seu amado, Jatir, não aparece durante toda a noite. O sol já nasce e nada de Jatir. Entenderam?


Também foi escrito durante o Romantismo, no romance Iracema, de José de Alencar, o seguinte fragmento, que apareceu numa recente prova de um grupo de estudantes que acessa este site.

" - Neste momento, Tupã não é contigo! replicou o chefe. O Pajé riu; e seu riso sinistro reboou pelo espaço como o regougo da ariranha. - Ouve seu trovão e treme em teu seio, guerreiro, como a terra em sua profundeza. Araquém, proferindo essa palavra terrível, avançou até o meio da cabana; ali ergueu a grande pedra e calcou o pé com força no chão; súbito, abriu-se a terra. (...)"

No próximo post, trato do Realismo e Naturalismo.
Até lá.



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